segunda-feira, 7 de abril de 2008

MARMELADA NAS URNAS

MARMELADA NAS URNAS



Proclamada a República do Brasil naquele fatídico dia 15 de novembro de 1889, pelo alagoano Teodoro da Fonseca, monarquista convicto, logo de início como é básico instalou-se o Governo Provisório onde várias medidas foram adotadas tipo o Federalismo – transformação das provincias em Estados, separação do Estado da Igreja, grande naturalização de estrangeiros, criação da Bandeira nacional, do Hino Nacional que ficou sendo o mesmo hino do Império, a instituição dos poderes legislativo, executivo e judiciário extinguindo-se então o poder moderador, alem da convocação da assembléia nacional constituinte. Pela nova constituição aprovada no dia 24 de fevereiro de 1891, dentre outros princípios estava a instituição do voto aberto ou seja, ‘eleição bico-de-pena’ cuja característica principal era a fraude, aliás ganhava as eleições quem conseguisse burlar mais o sistema eleitoral, que diga-se de passagem foi idealizado par locupletar e manter os governistas no poder, privilégio tanto por parte dos situacionistas que sempre levavam vantagem e ganhavam o pleito, bem como por parte dos oposicionistas que ainda contavam em seu desfavor com a “degola”, uma espécie de comissão verificadora instituída pelo próprio governo, responsável para analisar a legitimidade dos votos recebidos pelo pessoal da oposição que nunca tinha seus votos validados na totalidade e dessa forma jamais conseguiram eleger representante todo aparato tinha apoio da força do coronelismo baseado no clientelismo.

No livro de memórias Um Sertanejo e o Sertão, de Ulysses Lins de Albuquerque, fala de seu primeiro contato com o tal processo eleitoral da República Velha:
Conta ele que nos idos 1889, contava apenas com 10 anos de idade, quando foi iniciado na política pelo Coronel Ingá,“...chegou ele em casa de meu pai, de manhãzinha, metido na sua roupa de casimira, engravatado, para tomar parte, como presidente de uma mesa eleitoral, na eleição ‘’bico-de-pena” que ia se realizar pela primeira vez; e, pegando-me pelo braço, delicadamente, disse: ‘você vai me ajudar na eleição’.

Espantei-me, sem saber o que aquilo significava, e ele me levou para uma mesa, na sala de jantar, em redor da qual tomavam assento os mesários. Colocando o pince-nez, passou a ler as ‘instruções eleitorais’, impressas, que meu pai lhe fornecera, e a ditar a ata da instalação que o secretário ia lavrando num livro, enquanto outras pessoas escreviam ao mesmo tempo, em folhas de papel almaço, as cópias daquela ata, que começava assim: Ata da instalação da seção eleitoral, etc, Aos tantos dias do mês tal do ano de mil oitocentos e oitenta e nove, décimo da República dos Estados Unidos do Brasil, nesta vila de Alagoa de Baixo, Estado de Pernambuco, às sete horas da manhã, na sede desta seção eleitoral presente os senhores tenente-coronel Joaquim Francisco Cavalcante Ingá, presidente, Major Antonio Alves de Siqueira Dino e Capitão Manuel Nunes da Silva, mesário, foi instalada a mesa eleitoral’. Lavrada a ata, teve lugar a votação numa lista em que, realmente, assinaram apenas os membros da mesa, porque as demais assinaturas, de quase uma centena de eleitores, foram rabiscadas por mim e alguns mesários que ali apareceram. Vi como eram eleitos senadores e deputados com a maior facilidade desde mundo. E que eleitores disciplinados! Fosse alguém comprar-lhes os votos... Terminada a votação simbólica, a mesa eleitoral extraía logo os boletins, que eram por todos assinados (inclusive os fiscais!), para serem enviados a alguns candidatos, amigos de meu pai, que assim desejava documentá-los para defenderem seus direitos perante as juntas apuradoras, nas sedes dos Distritos eleitorais. A sede do 3º distrito era Pesqueira, para onde seguia,ora meu pai, ora Quinca Ingá, como um dos membros da Junta, na qualidade de presidente do Conselho Municipal”

Como se pode constatar nesse depoimento, o Sistema Eleitoral da República Velha, contava com apoio da força do coronelismo para fraudar as eleições em todos os níveis. Essa prática somente foi rompida com o advento da Revolução de 1930, vinda com crise financeira internacional com a quebra da bolsa de Nova York em outubro de 1929 .

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